Um dia, ela deu-se a conhecer. O seu poder transbordou em mim, de mim. Ela esteve sempre aqui comigo, mergulhando-me em sabedoria antiga e vivida. Deu-se a conhecer através das pedras, da lua, dos dentes-de-leão, e dos corvos. Ela é feita de ciclos. As suas histórias estão em mim, e eu honro-a profundamente. Ela ainda vive dentro da terra, sussurrando para mim, alimentando o que não sei, permitindo-me mudar e ver no escuro. O seu saber prospera nas sombras da lembrança, na teia profunda da reciprocidade co-criada.
Ela desperta-me para as coisas que não têm forma definida, a consciência cósmica sempre em mudança. A Antiga Mulher ligou-me à teia metamórfica em fluxo e às questões mais que humanas urgentes.
Com velho afecto e ternura todos os dias, ela acolhe-me no desconhecido, embalando intimamente os meus ossos e balançando o meu coração. Levando-me suave mas ferozmente às minhas responsabilidades, fazendo nascer a tutela da vida, guiando a minha intenção para novas línguas, formulações e sonhos. Um dia, ela deu-me a conhecer o seu mundo, foi o primeiro dia da minha vida quando tudo se tornou mais nítido.
O seu velho xaile cobre as ruínas vivas das memórias, enquanto as suas ferozes mãos enrugadas e quentes se movem com cuidado e amor. Antigos pés que anseiam caminhar experimentam a terra em cada toque, conhecendo as suas vibrações. Ela abriu-me novos territórios. Lugares que estiveram aqui desde sempre, aqueles que eu sempre carreguei no meu coração mas que não vi nem reconheci, pois estavam para além do que conseguia ver.
Ela nutre-me em impulsos para seguir o meu instinto, determinados a activar o núcleo da vida. Ela ensina-me a materialidade do emaranhamento e da reciprocidade, através do espaço e do tempo, pulsando com em relação profunda. Abraçamo-nos através das eras.
Este legado e ligação despertaram o fio ancestral da comunalidade. O núcleo vital e visceral, esse poder bruto de tutela, está novamente ligado. Um dia, ela fez-me conhecê-la, e o seu poder transbordou em mim.
©SofiaBatalha