Caçar, recolectar e comprar
Hoje fui a um centro comercial.
Entrei numa grande loja de roupa.
Meandros de corredores atulhados de coisas. Excesso de tudo. Uma coisas penduradas e outras empilhadas. Umas ordenadas outras remexidas. Ar condicionado e luzes brancas tremeluzentes.
Muita gente a deambular pelos corredores apertados com olhos de quem procura. Olhares tão intensos como absortos. Tão perdidos como concentrados. Dedos que apontam, mãos que levantam e vasculham. Talvez escolham. Talvez encontrem.
Corpos puxados tanto pela necessidade como pela novidade. A tensão do encontrar. Algo. Que sirva. Ou que chame. Quer se precise ou talvez não.
Apesar de dissociado, este é um movimento antigo. Caminhar e deambular pela paisagem à procura de sinais fugidios de plantas, raízes que se escondem, animais invisíveis, nozes que caem.
Esta é uma presença primeva de participação e comunhão no lugar, atendendo aos mais ínfimos detalhes de mudanças de vento, luz ou água. É nesta atenção ao grande e ao pequeno que nos fizemos humanos. É um algoritmo mamífero que continuamos ainda a replicar mesmo nos ambientes mais artificiais. Porque sabemos, sempre soubemos, encontrar as histórias e seguir os seus fios. Só é pena que hoje em dia nos tenhamos perdido no nosso próprio excesso que nos afoga em vez de abrir.
A nossa atenção sempre foi muito mais que consumismo sumário e nunca esteve em saldo, tal como o mundo.
🌳 Estes vários livros são como vários territórios, lugares diferentes de resgate da polimorfa Imanência.
Peregrinações caleidoscópicas em profundidade, às raízes da identidade moderna, em todos os seus preconceitos, intrínseca violência e absurdas limitações. Diferentes jornadas de amor pela poesia da complexidade, da diversidade e da metamorfose. Tecelagens de histórias vivas que nos recordam do que esquecemos, da sacralidade do chão e da Vida. Complementos ao vício da transcendência, em rigor e responsabilidade.