Em tempos de mudança de forma, quando vagueamos pela terra, pela psique e pela alma, à procura do nosso lugar, estamos abertos a toda a sabedoria da consciência selvagem que cria e vive por todo o universo.
Tornamo-nos recipientes abertos através dos quais todo este conhecimento cósmico tece a realidade, criando e destruindo.
Deixando-nos inquietos, à procura de respostas. Esta experiência profunda transforma-nos, pois somos inundados de profunda sabedoria, mas deixados sem respostas. Sentimos a urgência da terra e o raciocínio profundo da consciência da vida que tudo cria.
Na nossa (pequena) mente ocidental, tentamos sintetizar esta sabedoria consciente que tudo permeia, para lhe dar nome e estrutura. Mas nomeá-la é domá-la.
Domesticá-la confina os seus significados, simplificando as suas melodias e texturas selvagens. Deixa-nos fora do mistério. Temos de nos sentar sem a categorizar, sem tentar dar-lhe um nome, sem lhe dar uma forma final.
Temos de sentir o nosso corpo e psique dissolverem-se e fundirem-se com as entidades que nos tocam. Com a inundação da consciência pluniversal a fluir através de nós, tornamo-nos porosos a todas as vozes, ritmos, pulsações, e histórias. Quando nos sentimos abertos por este antigo impulso de fluir e criar, em vez de procurar nomes e estruturas, precisamos de procurar histórias, personagens, poéticas, nuances, metáforas e símbolos que, com integridade, carregam dentro de tudo o que existe. Porque nomear é domar.
Por isso, precisamos de expandir e colapsar a nossa compreensão desta realidade poética e mítica, para que a nossa psique e alma possam mais uma vez começar a abranger todas as antigas complexidades que nos sustentam. Precisamos de despertar de novo as possibilidades imanentes da alma.
Na cultura ocidental, os sem nome não existem na realidade objectiva. As coisas que não têm nome escondem-se nas sombras do invisível. São descartadas, ambíguas, e negligenciadas. Por isso, sentimos este impulso de nomear as coisas, de tornar a realidade mais real.
Dar um nome é domesticar.
De uma forma ocidental, nomear é objectivar parte desta vasta complexidade, perdendo o fio vital que nos tece e co-cria. Temos de estar abertos a este fio da vida. Temos de o seguir com fascínio, através de ciclos e lugares. Temos de o respeitar e honrar. Não precisamos de compreender tudo. Quando nomeamos coisas, sendo fios de consciência, lugares, ou crianças, emprestamos-lhes uma ressonância, composta com sons e significados, mas ao fazê-lo, podemos não incluir (alguma da) energia original, a emergência selvagem que nasceu com o que estamos a tentar nomear. Dar um nome é domar.
As cerimónias de nome dos Primeiros Povos, são vitais na tecelagem conjunta da comunidade mais do que humana. Dar um nome é a tarefa de ligação com o todo. Para que o nome certo surja, temos de observar e ouvir a ressonância do desenrolar da história.
Temos de nos libertar das restrições do espaço-tempo e lembrarmo-nos de ver e ouvir plenamente.
©Sofia Batalha