Ouves as mulheres Serpente?
Nos cantos do tempo, da espontaneidade do dia,
nos limiares das pedras, das memórias minerais,
das profundezas das águas, no fluxo abissal de sabedoria.
Na Seiva das árvores e nas cores das flores.
Elas criam vida.
O topo das montanhas vive a tocar as nuvens e as estrelas.
A escuridão das profundezas vive e respira.
Vida é um verbo, uma acção sagrada.
Um movimento antigo e experimental.
Uma dança rítmica e pulsante ao som do bater do coração do cosmos e da terra.
Vida que emerge e brota. Que se afunda e se mexe, transmuta.
Vida que é.
Aqui na finisterra as telúricas mulheres serpente co-habitam com as entidades do oceano selvagem.
Também guardam as valiosas entidades minerais que alicerçam este lugar. Minerais que na sua rudeza, expandem e contraem aos raios lunares, armazenando memórias antigas. Histórias incomensuráveis de outras eras, aqui alojadas.
A Lua puxa a água, o sangue, a seiva e as pedras. Esvazia e enche. Traz e leva. Expande e contrai. Pois, tal é o padrão da respiração e criação do universo, em grandes e pequenos ciclos, vastas e curtas transições.
Nos limiares das pedras, nas montanhas que cantam com as estrelas, com o chão e o vento a dançar ao som da vida. As mulheres serpente sussurram.
Ouves?
