O confinamento da percepção ocidental

O vision-board é uma técnica adaptada à cultura ocidental contemporânea, normalmente utilizada em métodos de auto-desenvolvimento para aumentar as hipóteses de materializar algo, seja amor ou um carro novo. A nossa imaginação perceptiva única sustenta a construção de um vision-board, e usamos a nossa linguagem simbólica individual para o animar e compor.
Sendo um quadro real ou apenas papel simples, deixamos a nossa criatividade correr à solta dentro dos limites desse espaço e desse tempo inventivo. Tesouras, cola, revistas antigas, e alguns lápis de cor são geralmente veículos através dos quais encontramos liberdade expressiva, mesmo por apenas alguns minutos, ainda que constrangidos com um título ou uma expectativa ansiosa.
Depois do vision-board estar pronto, colocamo-lo algures no nosso espaço íntimo para o contemplar, esperando ansiosamente os seus resultados. A sua energia extingue-se gradualmente.

O objectivo do artigo não é o falar sobre os vision-boards, mas sim sobre os confinamentos da nossa percepção moderna.

Porque a natureza costumava ser o nosso “vision-board”- só de dizer isto é tão excessivamente simplista e ingénuo. Quero dizer que a nossa percepção foi roubada e colapsada pela modernidade, com o olhar simplista e superficial do reducionismo, a sua cegueira inerente das complexidades, e os meandros das relações profundas das coisas.

Utilizámos constantemente o tipo de “olho” perceptivo expandido e conectado. O “olho” simbólico que encontra significado não na cabeça, mas dentro do coração. Que vê através dos objectos, descobrindo a sua senciência intrínseca.

Esta ampla cognição deu-nos a capacidade de enredar o nosso olhar com o movimento dinâmico da natureza. O nosso campo perceptual foi entrelaçado com a própria paisagem sistémica, pelo que toda a sua sabedoria, padrões, fluxos, e símbolos eram percebidos naturalmente. Quando estamos ligados desta forma, os significados estão à nossa volta. Ficamos imersos em sabedoria viva e antiga, misturando-nos com ela. Este antigo olhar era um olhar comunitário.

O olho simbólico era um guardião activo da contemplação, utilizado para proteger a vida nas suas múltiplas formas. Não se separava do seu contexto real, geográfico, cultural ou outro.

Pratiquemos o nosso antigo “olho simbólico”, permitindo que as nossas mentes se desviem pelas ondas da imaginação. Liguemo-nos com os seres vivos, com os seus ciclos, texturas, movimentos, e consciência sensível. Deixemos que o coração encontre o seu caminho através de símbolos e emoções, dialogando em reverberação. Recuperemos a velha força da nossa verdadeira percepção.

Estão prontos?

©SofiaBatalha